Monday, June 13, 2005

Hoje é um dia muito cinzento...

Hoje o céu está carregado de nuvens espessas. Hoje morreu um Poeta. Hoje a luz que emanava das palavras de Eugénio de Andrade evadiram-se para outro lugar. Não se frise desgraça ou tragédia como tom que embebe esta manhã (tenho ideia até que Eugénio não era nada apologista de sentimentalismos fáceis) mas, no entanto, pesam as suas palavras nos meus olhos, nos meus ouvidos, na minha cidade. Impregno por isso esta manhã com as suas palavras com travo agridoce a "Amoras". Obrigada Eugénio pela tua sabedoria.




AS AMORAS

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.


Eugénio de Andrade em "O Outro Nome da Terra"







Mas a morte não ficou por aqui e asinha levou também um político imbuído de um peso inegável na História desta terra de muros brancos. Controverso? Coerente? Odioso ou admirável? Político...partiu também Álvaro Cunhal. Não me compete aqui dissecá-lo. Mas além de político foi pintor e ensaísta e acima de tudo isso foi resistente. Resistiu a 8 anos de solidão num cárcere deste país e lutou por uma realidade chamada 25 de Abril. E isso... é sempre memorável.

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