Sunday, June 26, 2005

Ausência

São
Blástulas múltiplas
Excrescendo pelas
Paredes desse Útero
Carregado por um
Universo bojudo
De silêncio,
De luzes imperceptíveis
De abstracções várias.
Éter ou o vazio.
Insignificância
Revoluções pulsantes
E a infinitude.



23-03-05 M.S.

Presença

Mera cefaleia
Irritante
A tua presença
No canto da sala persistente

Mero formalismo
De luz e circunspecção
Os olhos teus
Em forma de ponto de interrogação


23-03-05 M.S.

Monday, June 20, 2005

pensamentos soltos

Fruir

Na correnteza das águas tudo
se arrasta, nos olhos negros
de alguém que desconheço.

Quem ignora que os olhares queimam,
que os corações palpitam?

Apartando-se os braços esfriam-se
as doces risadas dos amantes...



M.S. Dezembro 2004

Thursday, June 16, 2005

obsessão 2

Obsessão: Semântica

A Palavra traiu-me
Faltou-me na sua Eloquência
E eu perdi o sentido do
Equilíbrio

A ênfase,
As frases proferidas,
Inculcadas
da minha essência
Foram inertes
Supérfluas

Ignoradas.

desprezado
o fragmento de mim
mais verdadeiro
que mais me apraz
oferecer.

No entanto, no meu
córtex jaz, odiosamente,
Impresso cada vocábulo
Pobre, desprovido
De elegância,
Desajeitado,
Ingénuo,
Patético e cuspido,
Sem consciência
Do aroma
De cada
signo!

Sinto-me um recipiente passivo
De todos os Verbos
Um interlocutor
falhado
Sem nada
Que valha partilhar.

Um complexo de repetições
Fúteis.

Agosto 2004 M.S.

Wednesday, June 15, 2005

testing the mother tongue

Fiend


That somber expression you wear
Beams my pupils,
Solely lust
Seems to reveal


Entagling my arms
Against my thorax,
A long lived thirst
That ordained my craving.
And whatever last fragment
Of ingenuity I conceal
Turns to grey white dust
As the flickering

And swept ashes
Of your vice


And as you
Approach near and abruptly
Rapture my mouth, my flesh


I finally burst
And consent
To bear the price


Of thine hex.


22-03-05 M.S.

Monday, June 13, 2005

Hoje é um dia muito cinzento...

Hoje o céu está carregado de nuvens espessas. Hoje morreu um Poeta. Hoje a luz que emanava das palavras de Eugénio de Andrade evadiram-se para outro lugar. Não se frise desgraça ou tragédia como tom que embebe esta manhã (tenho ideia até que Eugénio não era nada apologista de sentimentalismos fáceis) mas, no entanto, pesam as suas palavras nos meus olhos, nos meus ouvidos, na minha cidade. Impregno por isso esta manhã com as suas palavras com travo agridoce a "Amoras". Obrigada Eugénio pela tua sabedoria.




AS AMORAS

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.


Eugénio de Andrade em "O Outro Nome da Terra"







Mas a morte não ficou por aqui e asinha levou também um político imbuído de um peso inegável na História desta terra de muros brancos. Controverso? Coerente? Odioso ou admirável? Político...partiu também Álvaro Cunhal. Não me compete aqui dissecá-lo. Mas além de político foi pintor e ensaísta e acima de tudo isso foi resistente. Resistiu a 8 anos de solidão num cárcere deste país e lutou por uma realidade chamada 25 de Abril. E isso... é sempre memorável.

Saturday, June 11, 2005

Fuga

Por vezes o mundo de glórias e honra parece ser o único aprazível. Será que alguma vez existiu/existirá? Será que o quero/queremos? At what expense?

"Time table


A carved oak table,
Tells a tale
Of times when Kings and queens sipped wine from goblets gold,
And the brave would lead their ladies from out the room
to arbours cool.
A time of valour, and legends born
A time when honour meant much more to a man than life
And the days knew only strife to tell right from wrong
Through lance and sword.

Why, why can we never be sure till we die
Or have killed for an answer,
Why, why, do we suffer eachrace to believe
That no race has been grander
It seems because through time and space
Though names may change each face retains the mark it wore.


A dusty table
Musty smells
Tarnished silver lies discarded upon the floor
Only feeble light descends through a film of grey.
That scars the panes.
Gone the carving,
And those who left their mark,
Gone the Kings and queens now only the rats hold sway
And the week must die according to nature's law
As old as they."

Genesis, Foxtrot 1972

Para R.C.

Pudera eu
Ser nuvem, cinzenta,
Liquefazer-me sobre teus
Ombros
Pudera eu ver-te
Com as minhas mãos
Beijar-te com os meus olhos
Escorrer pelos teus cabelos e
Vaporizar-me
Com as moléculas do teu ADN
Para a exosfera.

Verão 2000 M.S.

To sneak

Prospecção


Vejo-te da janela
Por entre as cortinas
Corridas
Observo-te passando
Através de frinchas
De tecido empoeirado
E matizado de rosa
Velho.

Sei o teu percurso

Como se tivesse
Desenhado o teu destino
Erigido as esquinas
Em que os
Passeios se cruzam


Sei a voz que é a
Tua que ecoa
Insistente nesta
Sala ornada de
Anacronia e
Flores secas.
E sei que palavras
Amas e persegues
Por entre linhas
De um fascículo
Enciclopédico

Abstenho-me contudo

De te perturbar atravessando
a rua e perguntando-te:


"Boa tarde. Podia dizer-me as horas, por favor?"

As cortinas entreabrem-se

Permeáveis à
Tua Luz
Mas jamais
Caem.
Recolho-me no
Sofá por entre
Páginas que preferes
E perco-te
De vista.


03-06-2005 M.S.

Estado de (I)na(ni)ção

Morrinha


Revolve-se o ar
Estagnado por
Múltiplas e consecutivas expirações
desinspirações


A paisagem matutina
Descrita por um mar
A espreguiçar os primeiras ondas
É somente
Uma artificialidade definida por
4 planos perpendiculares


não acredito na voracidade
do tempo
não vejo fluências mutações
na clareza dos
ribeiros
nas pálpebras céleres
de um utopista

não prevejo não
assumo
aceito


não recorro não
questiono
venero
absorvo


onde a locomoção?
Como a diferença?
Para quê
progredir?
Deslembre-se.



20-04-05 M.S.