Thursday, July 28, 2005

"Já não há tempo para ilusões."

We exchanged an ant
with bare pale hands
We confided fears and dreams
to one another
And silently departed in some kind
Of passionate melancholia.


M.S. 26-07-05

Thursday, July 21, 2005

Ainda não é mas sim

Uma preciosidade de melancolia, inspiração e admiração. Não há vocabulário suficientemente eficaz/rico para expressar o que fica na minha alma/mente depois de mergulhar neste poema.



"Domingo

Quando chega domingo,
faço tenção de todas as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida.

Há quem vá para o pé das águas
deitar-se na areia e não pensar...
E há os que vão para o campo
cheios de grandes sentimentos bucólicos
porque leram ,de véspera, no boletim do jornal:
« Bom tempo para amanhã»...
Mas uma maioria sai para as ruas pedindo,
pois nesse dia
aqueles que passeiam com a mulher e os filhos
são mais generosos.
Um rapaz que era pintor
não disse nada a ninguém
e escolheu o domingo para se matar.
Ainda hoje a família e os amigos
andam pensando porque seria.
Só não relacionam que se matou num domingo!
Mariazinha Santos
(aquela que um dia se quis entregar,
que era o que a família desejava,
para que o seu futuro ficasse resolvido),
Mariazinha Santos
quando chega domingo,
vai com uma amiga para o cinema.
Deixa que lhe apalpem as coxas
e abafa os suspiros mordendo um lencinho que sua mãe lhe bordou,
quando ela era ainda muito menina...
Para eu contar isto
é que conheço todas as horas que fazem um dia de domingo!
À hora negra das noites frias e longas
sei duma hora numa escada
onde uma velha põe sua neta
e vem sorrir aos homens que passam!
E a costureirinha mais honesta que eu namorei
vendeu a virgindade num domingo
— porque é o dia em que estão fechadas as casas de penhores!

Há mais amargura nisto
que em toda a História das Guerras.

Partindo deste princípio.
que os economistas desconhecem ou fingem desconhecer,
eu podia destruir esta civilização capitalista, que inventou o domingo.
E esta era uma das coisas mais belas
que um homem podia fazer na vida!

Então,
todas as raparigas amariam no tempo próprio
tudo seria natural
sem mendigos nas ruas nem casas de penhores...
Penso isto, e vou a grandes passadas...
E um domingo parei numa praça
e pus-me a gritar o que sentia,
mas todos acharam estranhos os meus modos
e estranha a minha voz...
Mariazinha Santos foi para o cinema
e outras menearam as ancas— ao sol
como num ritual consagrado a um deus!
—até chegar o homem bem-amado entre todos
com uma nota de cem na mão estendida...

Venha a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu fique rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras;
venha a ânsia do peito para os braços!

E vou a grandes passadas
como um louco maior que a sua loucura...

O rapaz que era pintor
aconchegou-se sobre a linha férrea
para que a morte o desfigurasse
e o seu corpo anónimo fosse uma bandeira trágica
de revolta contra o mundo.
Mas como o rosto lhe estava intacto
vai a família ao necrotério e ficou aterrada!
Conheci-o numa noite de bebedeira
e acho tudo aquilo natural.
A costureirinha que eu namorei
deixava-se ir para as ruas escuras
sem nenhum receio.Uma vez que chovia até entrámos numa escada.
Somente sequer um beijo trocámos...
E isto porque no momento próprio
olhava para mim com um propósito tão sereno
que eu, que dela só desejava o corpo bom feito,
me punha a observar o outro aspecto do seu rosto,
que era aquela serenidadede pessoa que tem a vida cheia e inteira.
No entanto, ela nunca pôs obstáculo
que nesse instante as minhas mãos segurassem as suas.
Hoje encontramo-nos aí pelos cafés...(ela está sempre com sujeitos decentes)
e quando nos fitamos nos olhos,
bem lá no fundo dos olhos,
eu que sou homem nascido
para fazer as coisas mais heróicas da vida
viro a cabeça para o lado e digo:
— rapaz, traz-me um café...
O meu amigo, que era pintor,
contou-me numa noite de bebedeira:
— Olha,
quando chega domingo,
não há nada melhor que ir para o futebol...

E como os olhos se me enevoassem de água,
continuou com uma voz
que deve ser igual à que se ouve nos sonhos:
— .... no entanto, conheço um homem
que ia para a beira do rio
e passava um dia inteirinho de domingo
segurando uma cana donde caía um fio para a água...
... um dia pescou um peixe,
e nunca mais lá voltou...
O pior é pensar:
que hei-de fazer hoje, que toda a gente anda alegre
como se fosse uma festa?...—
O rapaz que era pintor sabia uma ciência rara,
tão rara e certa e maravilhosa
que deslumbrado se matou.

Pago o café e saio a grandes passadas.
Hoje e depois e todos os dias que vierem,
amo a vida mais e mais
que aqueles que sabem que vão morrer amanhã!

Mariazinha Santos,
que vá para o cinema morder o lencinho que sua mãe lhe bordou...
E os senhores serenos,
acompanhados da mulher e dos filhos,
que parem ao sol
e joguem um tostão na mão dos pedintes...
E a menina das horas longas e frias
continue pela mão de sua avó...
E tu, que só andas com cavalheiros decentes,
ó costureirinha honesta que eu namorei um dia,
fita-me bem no fundo dos olhos,
fita-me bem no fundo dos olhos!

Então,virá a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu ficarei rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras:
e virá a ânsia do peito para os braços!

Domingo que vem,eu vou fazer as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida!"


Manuel da Fonseca

"Lebanese blonde"

Sabor

é um jogo de sombras
a luz ambarina que percorre
as cristas de cada perturbação
no Mar tépido
de fim de tarde

é uma camada fundente
uniformemente entornada
em cada direcção
do olhar sobre o horizonte

é, sem urgência,
um pôr-do-Sol denso
e incontornável esculpido
sobre a Reminiscência.

21-07-05 M.S.

Tuesday, July 19, 2005

Saudade

Saudade

do ant. soedade, soidade, suidade
s. f.,
lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a

ver ou a possuir;
pesar pela ausência de alguém que nos é querido;
nostalgia;

in
www.priberam.pt


Na crueza da realidade reside o instável,
a improbabilidade, a incongruência, a eventualidade.

Mas em mim retenho inesperadamente a Certeza,
a pueril ideia de uma quase-plenitude adquirida,
de uma luz encarcerada
na minha clepsidra de bolso.

Ao preço dessa incomensurável constatação chamo saudade.


M.S. 19-07-05




Friday, July 08, 2005

Pensamentos soltos numa tarde empoeirada pelas cinzas de um incêndio

I would love the most
To reveal to
You
How I slumber, lost,

Leaning my head on
Your shoulder
As I look through
The almost turquoise blue
of your eyes.

I am eager to.

But what promises of flawless portraits
Of fulfillment would I
Inevitably have to conceal?

I'd so keenly hold your hand
Alongside that same southern
Beach were you stroll
Your inquisitions and
Drown your apprehensions

Though the definite perception
Of a mellow afternoon
With your open smile
As a conforting background
Sways in my head
I am fully aware of its
Improbability.

Thus,
I have nothing
To aspire to

other than a sincere

Goodbye

Dressed in the golden
Tone of
Your timid voice
As I depart and
fade high
Amidst the
Cirrus clouds.

08-07-2005